sábado, 30 de janeiro de 2010

Quando os gênios foram burros

Todo gênio tem seu dia de asno. Do pai da física moderna, Isaac Newton, ao maior cérebro de todos os tempos, Albert Einstein: ninguém escapou de um escorregão ou outro ao longo da vida. Reuno aqui as maiores bobagens já levadas a sério na história da ciência.

Séc. 3 a. C.
  • “Quanto mais pesada é uma pedra, mais rápido ela cai.” Aristóteles

Ele só foi desmentido por Galileu, 19 séculos depois.

Séc. 16

  • O Inferno de Galileu

Gênio burro: Galileu Galilei.

Por que ele é um gênio: Fez descobertas importantes na mecânica, na física e na astronomia.

Por que ele é um burro: Provou matematicamente a existência do inferno de Dante.

Galileu Galilei era um rapaz perdido na vida. Em 1585, tinha acabado de largar a faculdade de medicina para se dedicar às ciências exatas, contra a vontade do pai. Para concorrer a uma vaga de professor de matemática na Universidade de Pisa, o cientista resolveu entrar numa polêmica que movimentava a ciência da época havia 100 anos: onde e como é o inferno? Galileu calculou e localizou não o inferno bíblico, mas o de Dante Alighieri, da Divina Comédia. Usando bases matemáticas, ele o descreveu como cônico, com a parte mais profunda no centro da Terra e o teto logo abaixo da crosta terrestre, em volta de Jerusalém. Para nós, parece uma viagem tão grande quanto tentar descrever o castelo de Frankenstein, mas o estudo foi recebido com entusiasmo pela academia de Pisa. Tratar a fé com seriedade científica fazia sentido na época – aliás, era bom ser respeitoso com a Igreja. Em 1632, quando Galileu defendeu que a Terra girava ao redor do Sol, e não o contrário, por pouco ele não foi executado pela Inquisição. Acabou tendo de negar a descoberta para, assim, salvar a pele.

  • Kepler, o sagitariano

Gênio burro: Johannes Kepler.

Por que ele é um gênio: Descobriu as leis do movimento planetário.

Por que ele é um burro: Acreditava que a astrologia e a astronomia eram a mesma coisa.

O casamento de Johannes Kepler estava marcado para o dia 27 de abril de 1596, mas algo incomodava o noivo. Embora estivesse apaixonado por sua futura esposa, o cientista alemão pressentia que seu casamento seria um fracasso. O motivo? A “constelação de mau agouro” que se formava no céu aquele dia. Sim, o astrônomo que descobriu a lógica por trás dos movimentos planetários não fazia nada sem consultar o horóscopo antes. Boa parte de seus trabalhos foi dedicada a validar a astrologia frente à astronomia, e provar que uma não existe sem a outra. Aliás, sua maior fonte de renda eram os mapas astrais que fazia por encomenda – mais de 800 deles estão preservados até hoje. Assim, com base nos astros, ele descreveria o pai como “propenso ao crime, brigão, passível de um final infeliz”, e a mãe era “magra, tagarela e mal-humorada”. Ele foi o último cientista importante a acreditar que astrologia e astronomia eram a mesma coisa. (Só para constar: seu casamento, de fato, foi um fracasso.)

  • “A luz viaja mais rápido pela água do que pelo ar.”

Isaac Newton, afirmando exatamente o contrário do que acontece.

  • Ele já sabia

Gênio Burro: Albert Einstein.

Por que ele é um gênio: Transformou todos os conceitos da física para sempre.

Por que ele é um burro: Descobriu que o Universo está em expansão, depois negou a descoberta, depois assumiu de novo a expansão.

Em 1900, o Universo era estático. Albert Einstein era apenas mais um físico a acreditar que a Via Láctea e todas as outras galáxias estavam fixas no espaço, e ficariam assim até o fim dos tempos. Mas ele não era um cientista qualquer. Quando Einstein bolou a Teoria da Relatividade – na qual o espaço e o tempo se distorciam em função da massa e da energia –, ele descobriu que as contas só fechavam se o Universo estivesse em movimento. Como essa possibilidade era inconcebível até mesmo para ele, inventou uma tal de “constante cosmológica”, que faria tudo ficar paradinho. (Essa constante era tão furada que nem mesmo ele acreditava muito nela quando a inventou.) Doze anos depois, o físico americano Edwin Hubble conseguiu comprovar por meio de observações telescópicas que o Universo estava, sim, crescendo. Einstein, gênio do jeito que era, não insistiu na besteira. Reconheceu que sua primeira intuição estava certa e chamou a constante cosmológica de maior erro da sua vida. Mesmo na burrice, ele tinha razão.

“Não há nenhuma evidência de que se possa obter energia do átomo.”

Albert Einstein, antes da bomba atômica.

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